quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ausência de mim mesma.


"Só e sem desculpas, condenado à liberdade"
(Sartre)



Não perceberam que eu apenas queria uma causa, uma razão. Eu me sabotaria em um machucado qualquer e a dor da ferida seria o meu disfarce.

Ninguém se perguntou se cortar o dedo com uma faca era realmente dolorido. Para extinguir antecipadamente qualquer suspeita, eu tive que explicar: - Um corte com uma faca que cortara cebola-não-madura provoca umas das-piores-dores. Por causa do leite que sai. Da cebola. Eles nem se deram conta do meu choro exagerado engasgado por soluços. Fui para o quarto.

Não testaram se era de fato verdade ou perceberiam que eu amolei a faca para.

Eu não tinha algo claro em mente que me fizesse desatar um choro como aquele, então eu chorei por tudo, inclusive pelo corte-zinho que se tornou o meu pretexto desilusão mais motivante. Aquela fresta de sangue me tomou os olhos em lágrimas ardentes e hemofílicas que se recusavam a estancar... A luz do quarto continuava ligada e eu quase senti a compaixão que todo o ambiente reverenciava em silêncio quase absoluto, como se o meu choro, raramente visto ou ouvido, fizesse parte de um ritual que acompanhavam com extrema curiosidade e cortesia.

Ninguém nunca evidenciou meu estado, nunca mensuraram a gravidade, o peso de tanto silêncio. Ninguém nunca percebeu a minha ausência gélida repercutindo em semi-frases, semi-ações, semi-presença.

Mas, apesar de tanta apatia, eu economizava prantos, porque não via recurso mesmo, extinguiam meu comportamento simplesmente não forçando uma animação. E em passos lentos, quase por omissão, as coisas continuavam a acontecer, o mundo continuava a girar e a história, em círculos quase concêntricos, continuava a se repetir.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Fui salvo!


“Chegar e partir são só dois lados da mesma viagem”

(Milton Nascimento)

Bom e não gosto de falar ou justificar as coisas que aconteceram. Eu não peço perdão e o único motivo que justifica em parte os corações que eu inconscientemente machuquei é porque eu ajo impulsionado pela paixão. A paixão que brota à pele, que ferve meus olhos, que me motiva a levantar diariamente para então morrer de amor e acordar renovado no dia seguinte. Não há arrependimentos. O passado é memorável e o presente está longe de ser essa viscosidade comumente apática e deprimente do cotidiano alheio.

Logo quando cheguei aqui, conheci uma garota como outra qualquer, que me fez sonhar e acordar feliz, mas não foi ela A protagonista dos meus dias de salvação nesta terra que emana mais que chuva e reggae. Eu já saía com essa garota há certo tempo e como é o natural dos "relacionamentos durantes" eu comecei a conhecer o seu círculo de amizades. Até o momento, nada demais, porém, em uma ida à praia, todos o seus amigos, inclusive ela, estavam tomando hiper-fermentados enquanto relembravam miseravelmente da noite anterior.

Foi neste dia e eu lembro de tudo; construíra-se como dito a seguir: Chamei um garçom, pedi o de sempre: uma bebida pós-moderna, sem açúcar, sabor limão; eu realmente me considerava muito saudável perante os outros. Aconteceu que uma mulher da mesa de falantes-capitalistas pseudo-engraçados se dirigiu a mim quase com autoridade assim que tomei o primeiro gole da parada torta, e segue o que ela dissera: -“Essa bebida parece saudável, mas ela contem mais sódio que o teu corpo necessita e pode acarretar qualquer coisa como trombose-vascular e comprometer um órgão.”

Neste exato momento eu paralisei como se eu já sofresse os efeitos colaterais daquele líquido, eis uns deles: Foto-fobia, surdez momentânea, taquicardia e a pessoa que falava comigo ficou verde. Verde-Oliva. Eu gostava da cor e não só isso, eu fui tomado de um sentimento quase que transcendental-sublime-espacial-freudiano. Aquela mulher verde ali na minha frente salvara minha vida! Ninguém conseguirá visualizar. Ela, na linha do horizonte, atrás o céu e o mar mostrando sua infinitude exuberante e incalculável.

Eu a amei naquele exato momento. Depois eu colhi muitas semelhanças e a achei bem parecida com a minha mãe, fisicamente mesmo, eu nunca confessei isto a ela porque eu carregava comigo uma fotografia o que me obrigaria a mostrar ...e ela definitivamente não se sentiria grata. Enfim, foi assim que minha existência na bifurcação da vida tomou rumo certo.