domingo, 16 de março de 2008

Assim Assim


Isso aconteceu no dia 17 de Agosto de 2028. Agora, tempos depois as coisas estam bem piores... Médicos dizem que não tem mais jeito, que eu preciso aceitar, me conformar, ainda disseram que não é necessário me afugentar, muita gente sofre deste MAL... enfim não preciso me sentir tão excluída (ou exclusiva) assim... É. Não deixa de ser consolo saber que a desgraça foi bem distribuída entre a raça humana.
Isso começou no inverno, às 5:17 da manhã. Foi. Eu levantei cedo mesmo, tão cedo que pensei que fosse noite ainda, achava que tinha acordado interrompendo não sei o que de outro mundo. Vesti uma roupa extra e saí caminhando, E foi neste dia/meio noite que o vento gélido me tocou, foi naquela manhã desacordada que a solidão esfriou minhas mãos, eu não consigo lembrar o que passou pela minha cabeça naquele exato momento, mas o meu coração perdeu algo assim como um suspiro. Essa perda se alojou comodamente – como que não quer nada - em minha face, uma dorzinha insignificante, como se fosse a própria ausência de dor, a falta da dor, uma anestesia completamente pacífica, quase pedindo autorização. Não que eu tenha permitido, mas ela foi sorrateira, o refúgio refletido entre meu lábio superior e meu nariz, no canto esquerdo, como a pontinha de um palito de fósforo, aqueles tantos que serviram pra esquentar meus pulmões e aquecer minha alma.
Isso ocorreu numa quinta-feira de um ano bissexto, foi quando tudo começou. Aquela pontinha do palito ficou satisfeita e se recusou a sair, foi crescendo e engolindo meus sorrisos e afeições como um buraco negro absorvendo toda minha escassa vontade de coisa e tal... – Sua face está petrificando, foi o que os médicos tanto repetiram de diversas maneiras e tons Isso mesmo, Ficou difícil sobreviver aqui pras bandas do Sul. Por aqui as pessoas sorriem muito, não estava acostumada Só isso, mas agora ainda mais isso, sabe como é “cabra-macho-sinsinhôr” ... E foi assim que eu descobri como é a dor. Sempre vem quando é lembrada ou é lembrada quando vem, enfim, dor de dente, unha encravada, papo furado, dor de cotovelo...O frio também contribui, Superfatura todas as dores, elas valem muito, custam muito. Pra ir embora, Não sei mais o que é dor, essa não deixa de me fazer companhia, faz eu sentir... “Um pouco de. Ou: qualquer coisa assim.”