sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Desperta


Respiro e sinto
A carne, a língua, o sangue quente.
Fere os lábios em minha nuca.
Murmura - Derrama
Tua história em minha boca.

Quero e toco
Olhares, olhos, pupilas.
Sem pressa - Vem - Desperta.
Revira coxas, pernas, colchas
Me tem e me toca e me tem.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

- Coloca pra fora!


Foi o que a terapeuta me disse, Coloca pra fora!

Eu olhei pra ela em dúvida ainda, olhei ao redor já subordinada a sua ordem medicinal e ansiando alívio procurei um cesto de lixo, pensei logo que se não tivesse saco plástico talvez eu hesitasse.

Tentei seguir as instruções - e só de pensar - uma ânsia começou a subir pelo meu ventre, um calafrio me tomava o corpo, meu peito apertava e comprimia o coração rebatendo e embrulhando o estômago, fatalmente o previsto.

(...)

Como eu estava dizendo, vomitei toda a porcaria que vinha engolindo há tempos e quando não restou mais nada, eu resolvi colocar pra fora o estômago, cansado das indigestões, Muitos sapos assim não me fizeram bem, foi o que eu disse, e ela bateu a cabeça afirmativamente, como que me ordenando prosseguir.

(...)

Depois de me livrar de um ou dois órgãos eu comecei a virar do avesso, minha respiração ficou mais lenta e nada mais naquele instante fazia sentido, eu queria me livrar de mim mesma, me vomitar pra fora, morrer excretada pela minha própria boca. Queria vomitar as experiências, as contradições, me livrar dos anos que me tornaram assim.

Isso me lembrou aquele cara dizendo que gostava de si mesmo, ele batia no peito, falava alto como se quisesse acreditar também no que ele defendia, pode até ser, mas eu borbulhei as conclusões, e nessa hora eu já tava era lembrando que eu também gostava de mim, era o tempo que eu tinha convicções, mas agora o que sobrou – eu tentando vomitar tensão, descaso, indiferença, orgulho, prepotência, ah! sentimento de superioridade, isso me destrói, me acaba.

(O cesto já não suportava tanta merda, sangue e órgãos, Traga outro cesto, ainda não terminei!).

Era o que eu estava falando... Que a vida anda tão sem gosto, sabe, que o melhor que faço é continuar vomitando, até passar essas oscilações de calor/frio/calor que fazem aparecer essas viroses.