domingo, 22 de março de 2009

A sirene.

Na faculdade. Acho que fui lá pra resolver alguma coisa porque quando eu olhei para as minhas mãos eu carregava uns papéis que nem eu mesma sabia do que se tratavam ou para quê serviam... Entrei na sala e achei que tinha entrado no lugar errado, no tempo errado, a não ser por um rosto conhecido. O De Tarcísio. Eu nunca falei com ele, mas já vi no quadro de notas que ele é inteligente. A maior aproximação nunca passou do contato visual em apresentações de seminários...

Após parcialmente situada eu procurava alguma coisa... Mas o que?

A mochila. Ela estava em alguma carteira que naquele momento eu não conseguia achar. Alguém a tirou do lugar e a colocou no canto da sala. Uma mochila sem dono, um dono sem carteira e SEM moral, numa sala de desconhecidos. Acabei sentando no chão, lugar que me coube, eu com minha falta de vontade e coragem reivindicatória.

Sem ousadia, me perdi dentro de mim. Pois nem raiva eu sentia.

Um cara acenou lugar ao seu lado. Um loiro. Quando sentei abriu logo um sorriso. Ele tinha o rosto bem redondo e algumas pintinhas no nariz. Perguntou se eu tinha ido pro Canadá. Estranho. Eu nunca nem saí daqui e me sinto tão deslocada, tão sem chão... Canadá? (pensei comigo). Ao meu redor, ao nosso redor, parecia que muitas pessoas já tinham ido pra lá, pois a pergunta parecia bastante óbvia.

Acho que eu nem respondi a pergunta dele, pois nesta hora tocou uma sirene que mais parecia um toque de celular. Nunca vi uma sirene tão insistente. E parecia tão perto.
No meu ouvido.
Parou.





Próxima vez não esqueço de colocar no silencioso.

Dor


Foi quando eu cheguei... achei tudo bem desarrumado, fora do lugar. Meio clichê “tudo fora do lugar”. Um pouco sertanejo até. Mas foi. Eu estava carente também. Precisava de atenção e não conseguia dormir a duas noites. Atenção é sonífero (?). Com sono e sem sono minha cabeça só inchava pra explodir não sei que horas, foi aí que escutei a terceira badalada de um novo dia. 3 hrs. Desesperei. O relógio batia e meu estômago é que era socado, fazendo minha cabeça rodar. Até poderia ter tomado um remédio e me masturbando pensando no cara que eu conheci à duas semanas, talvez eu tivesse conseguido esperar o efeito do remédio assim, mas não tentei também. Não tentei remédio, não tentei liberação de endorfina, não tentei dormir, eu queria era sofrer e extravasar a dor de alguma forma. Que forma? Nem os cachorros do vizinho deixariam. Aconteceu que a dor não era só na cabeça, eu estava convicta que aquilo era falta de abraço. Até tentei suprir essa necessidade abraçando o vaso sanitário depois de vomitar, mas ele tão frio disse “que não me amava”, “que eu só cagava”, “que assim era impossível”. Eu entendi o lado dele, entendi mesmo. Da segunda vez ele não agüentou me ver daquele jeito e até me aconselhou a pedir ajuda. Foi aí que um zumbi cruzou três cômodos até encontrar um ser animado e paralisado, naquele plano que eu não conseguia transpor, dormindo e roncando. Cheguei sem deixar dúvidas, abrindo aquele berreiro que não assusta, mas destranquiliza da forma que eu queria, ela estava sonhando e bem ou mal, compreendeu minha agonia. Não me abraçou, mas me levou ao hospital. Chegando lá, o médico me examinou, viu minha língua, mandou tossir, perguntou das alergias e fobias e passou o veredicto: TUBERCULOSE! A doença dos poetas boêmios. É até aceitável, depois de tanto “descer Bahia e subir Floresta” só podia acabar assim... Ele passou umas injeções de ânimo. Pra dor de cabeça, aspirina. Depois de ficar em observação ele me contou como segredo o elixir da vida interna... E voltei pra casa. Tranquila agora.